Setor contábil lucra com entrada no filão de TI
As consultorias e auditorias do ramo contabilista encontraram, no setor de tecnologia da informação (TI), uma nova oportunidade de negócio
As consultorias e auditorias do ramo contabilista encontraram, no setor de  tecnologia da informação (TI), uma nova oportunidade de negócio, ao começarem a  implementar divisões para desenvolver softwares específicos para o segmento  contábil, já que a implantação do pacote do Sistema Público de Escrituração  Contábil (SPED) tem gerado uma forte demanda de reestruturação tecnológica por  parte das empresas. O negócio está tão aquecido que, em alguns casos, a demanda  de contratos em consultorias contábeis já aumentou 15% este ano.
Há cerca  de 20 anos, a Seteco Contabilidade, prestadora de serviços de terceirização  contábil, percebeu que os processos internos da própria  empresa precisavam ser informatizados e, como não encontrou uma solução  compatível no mercado, passou a produzir seu próprio software através da Asplan  Sistemas, uma empresa do grupo Seteco que foi criada para cuidar exclusivamente  de plataformas tecnológicas na área contábil. "A Seteco sempre teve  desenvolvimento próprio, por isso criamos a Asplan", explicou Marcia Alcazar,  diretora da Seteco.
No mesmo período, a Seteco detectou que seus clientes  também necessitavam de um apoio tecnológico, pois não tinham nenhum sistema que  os ajudasse a compilar as informações que precisavam ser passadas à  contabilidade. "Na maioria das pequenas e médias empresas brasileiras, não  encontrávamos uma boa estrutura de tecnologia. Hoje o empresário precisa fazer a  opção por um sistema integrado de gestão, se não ele vai passar por dificuldades  para atender as novas exigências do governo", explicou a  executiva.
Percebendo a carência -de seus clientes e de outras empresas  de contabilidade- de sistemas que gerissem essas informações contábeis, a Asplan  passou a comercializar seus softwares a este mercado, o que acabou se tornando  em um grande negócio. "A Seteco viu que os sistemas já estavam avançados e,  percebendo a carência do mercado, passamos a comercializar nossos produtos.  Hoje, temos sistemas específicos para contabilidade, comércio, indústria,  serviços e entidades de classe", explica Fernando Alcazar, diretor da  Asplan.
Atualmente, a Asplan tem cerca de 50 funcionários diretos e  atende cerca de 400 CNPJs, o que significa cerca de 15 mil usuários. De acordo  com Fernando, a expectativa da empresa é crescer 40% este ano, um grande avanço  se comparado aos 25% registrados no ano passado. "A chegada do pacote SPED,  imposto pelo governo, gerou um incremento de 15% nos nossos contratos desde o  início deste ano", explicou o executivo.
A Terco Grant Thornton  consultoria e auditoria contábil criou, em outubro do ano passado, uma divisão  que oferece serviços de consultoria contábil, que auxilia as empresas na  implantação de sistemas de gerenciamento para atender à demanda do SPED.  "Capacitamos cerca de 80 profissionais que já estavam dentro da nossa estrutura  para prestar este serviço", explicou Wanderlei Ferreira, sócio da Terco Grant  Thornton.
Ajuste
A Confirp Consultoria Contábil, por exemplo,  percebeu a necessidade de ajustar os seus sistemas para conseguir atender às  solicitações do pacote SPED e também às de seus clientes e, por isso, passou a  produzir, entre os anos de 2007 e 2008, softwares específicos para otimizar  todos os proce-dimentos contábeis da empresa.
Richard Domingos, diretor  executivo da Confirp, explica que um dos primeiros softwares criados pela  companhia foi o Trabalhista On Line, que é um programa de relacionamento para  gerir a folha de pagamentos do cliente conectado com a Confirp. "Com os órgãos  públicos cada vez mais tecnológicos, sentimos uma grande pressão do governo para  a informatização do setor. Estamos sendo obrigados a mudar a forma de fazer  contabilidade", explicou o executivo.
Domingos afirma que o sistema  Trabalhista On Line permite a completa transação de informações via internet,  evitando desperdício de tempo, de papel e de mão de obra intelectual tanto para  a Confirp como para seus clientes. "Não existe mais transição de papel nesta  área, disponibilizamos as informações para o cliente via web" disse.
De  acordo com o executivo, a área de tecnologia gera contratos de fidelidade para a  empresa, pois se o cliente faz opção por seus serviços de consultoria contábil,  ele não cobra a parte de tecnologia. "Se o cliente me contrata como contador, eu  não cobro pela consultoria tecnológica, criando contrato de fidelidade", disse o  executivo, que desta maneira, conseguiu aumentar sua receita em cerca de 5% no  ano passado. Em 2008, a Confirp faturou um montante de R$ 11 milhões e tem a  expectativa de registrar, no fim, deste ano, cerca de R$ 13 milhões, além de  investir R$ 1,5 milhão em tecnologia.
"Neste ano, investiremos em  hardware, software, treinamento de pessoal e na ampliação de infraestrutura de  rede", explicou o executivo. Hoje, cerca de 16% do quadro de funcionários da  Confirp é composto por profissionais de tecnologia.
Sped
O pacote  do SPED, que vem sendo discutido pelo governo desde 2004 e que só foi  oficializado pelo governo este ano, propõe a virtualização de todo o sistema  contábil do País, para evitar fraudes, permitindo que o governo controle todas  as informações das empresas em tempo real  com o objetivo de diminuir a possibilidade de corrupção.
O projeto inclui  três diferentes sistemas: Nota Fiscal Eletrônica, Escrituração Fiscal Digital e  Escrituração Contábil Digital. De acordo com Marcia Alcazar, que além de  diretora da Seteco é membro do Conselho Regional de Contabilidade (CRC), por  enquanto, apenas as empresas selecionadas pelo governo devem entregar suas  informações virtualmente dentro dos três projetos inclusos no SPED. A tendência,  porém, é de que, até o 2010, todas as companhias do País que tenham seu  faturamento na moeda real entreguem suas informações contábeis virtualmente,  para serem processadas pelo SPED.