CNI: alta carga tributária segue como problema principal
CNI: alta carga tributária segue como problema principal
RENATA VERÍSSIMO
A falta de demanda perdeu importância entre os principais problemas enfrentados  pela indústria, segundo a Sondagem Industrial do segundo trimestre, realizada  pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). Apesar do item continuar em  segundo lugar, o porcentual de empresas, principalmente as pequenas e grandes  afetadas pela falta de demanda, recuou em relação ao primeiro  trimestre.
O principal problema enfrentado pela indústria ainda  continua sendo a elevada carga tributária. Em terceiro lugar está a competição  acirrada de mercado. As taxas de juros elevadas ficam em quarto lugar no ranking  de problemas, mas também perdem importância na comparação com o primeiro  trimestre do ano. Por outro lado, a taxa de câmbio ganhou relevância para as  grandes empresas. Subiu de 17,7% no primeiro trimestre para 27,5% no segundo  trimestre o porcentual de respostas, indicando este  problema.
Também ganhou relevância, entre os principais problemas  enfrentados pela indústria, a falta de financiamento de longo prazo e de  trabalhador qualificado. O economista da CNI Renato da Fonseca disse que o  número de empresas que apontou como problema a falta de trabalhador qualificado  surpreendeu, em razão do País viver um momento de retração no mercado de  trabalho.
Demanda
A Sondagem Industrial do  segundo trimestre mostra que os empresários voltaram a esperar aumento da  demanda, após revelarem pessimismo na pesquisa relativa ao primeiro trimestre. O  indicador de expectativa da demanda ficou, no segundo trimestre, em 57,1 pontos,  ante 48,3 pontos registrados no primeiro trimestre. Nesse indicador, resultados  acima de 50 pontos mostram otimismo. Mas a CNI destaca que o otimismo dos  empresários ainda é menor do que o verificado antes do auge da crise financeira,  no final do ano passado. O indicador de expectativa ainda está 4,1 pontos abaixo  do resultado da sondagem realizada no segundo trimestre de 2008. Segundo  Fonseca, o crescimento da demanda deve ocorrer no mercado  interno.
Os empresários continuam pessimistas, ainda, em relação  ao cenário externo. A indústria espera uma queda nas exportações, embora a  sondagem do segundo trimestre aponte uma redução na intensidade da queda  prevista. O indicador de expectativa de exportação ficou em 44,7 pontos - 4,9  pontos acima do registrado na pesquisa do primeiro  trimestre.
Ainda segundo a Sondagem Industrial, a indústria  pretende aumentar as compras de matérias-primas e manter a estabilidade do  emprego. Fonseca destacou que, se essa expectativa em relação ao emprego se  confirmar, será um bom sinal, já que o setor industrial está fechando postos de  trabalho desde o quarto trimestre de 2008.
Taxa  Selic
O economista-chefe da CNI, Flávio Castelo Branco,  afirmou hoje que a redução de 0,5 ponto porcentual na taxa Selic (juro básico da  economia brasileira), anunciada ontem pelo Banco Central (BC), "é frustrante",  porque a taxa de juro real no Brasil ainda é alta, se comparada com as de outros  países emergentes.
"Para um ambiente de crise, de falta de  demanda e de recessão, ainda é uma taxa elevada, e frustra mais a sinalização de  que o processo de queda dos juros pode estar perto do final", afirmou o  economista. Para ele, o fim do uso da política monetária como alavanca para a  retomada do crescimento prejudicará a recuperação da economia.
"O  processo de recuperação vai ficar mais difícil. A alavanca do crédito e o custo  do capital são muito importantes para a retomada dos investimentos", completou  Castelo Branco. Ele não quis mencionar uma taxa ideal. Apesar de admitir que a  atual Selic, de 8,75% ao ano, é a mais baixa do período de estabilização da  economia, afirmou que ainda existe espaço para a taxa continuar caindo. Castelo  Branco disse que o governo precisa solucionar restrições do ponto de vista  institucional, como a rentabilidade da poupança, para permitir a continuidade da  queda das taxas de juros.
 
                            